Fonte: Rede Brasil Atual / Gisele Brito
Apuração
do Ministério Público (MP) de São Paulo mostra que pessoas com
transtornos mentais deixaram de ser atendidas no Centro de Atenção
Integrada em Saúde Mental Philippe Pinel, na zona oeste da capital, para
abrir espaço a dependentes químicos encaminhados pelo Centro de
Referência em Álcool e Tabaco e Outros Drogas, o Cratod.
A
medida passou a vigorar depois que o governador Geraldo Alckmin (PSDB)
anunciou no início do ano que o estado iria criar programa de
atendimento a viciados com foco na chamada "cracolândia" paulistana,
incluindo a utilização de internações compulsórias. Na época, a
Secretária de Saúde afirmou ter 700 vagas disponíveis para os
dependentes químicos. Agora, os promotores afirmam que houve farsa e
criação artificial de vagas.
Uma
ação civil foi ajuizada hoje (11) para garantir que os psicóticos voltem
ao Pinel. O MP não sabe para onde estão indo as pessoas com transtorno
mental, mas desconfia de que elas têm permanecido em prontos socorros
não especializados. “Essas pessoas foram levadas para lá para preencher
uma planilha de estatística da Secretaria de Justiça e Defesa da
Cidadania. Também para preencher uma planilha da Secretaria de Saúde do
estado de São Paulo”, afirmou o promotor de Habitação e Urbanismo,
Maurício Ribeiro Lopes, durante entrevista coletiva na sede do
Ministério Público, no central da capital. “Ali estavam para
simplesmente tomar um banho, passar 30 dias e depois retornar à rua de
onde vieram nas mesmíssimas condições. Tudo que era possível oferecer
era abstinência, mais ou menos, já que droga entrava no estabelecimento,
e televisão”, lamentou.
Funcionários
do Pinel relataram a permanência de vagas ociosas no início de janeiro,
algo incomum. Na tarde do dia 24 do mesmo mês os primeiros dependentes
químicos começaram a chegar ao local, sem que os funcionários recebessem
qualquer tipo de qualificação para o tipo de atendimento demandado por
eles.
Durante um período,
viciados e psicóticos dividiram o mesmo espaço. Houve agressões físicas
entre os dois grupos de pacientes e contra profissionais. A Força Tática
da Polícia Militar chegou a ser acionada em um dos episódios de
conflito. Depois de algumas semanas, os pacientes com transtornos
mentais receberam alta e todas as 63 vagas do Pinel passaram a ser
destinadas ao atendimento de viciados.
Sem
infraestrutura ou treinamento para atendê-los, os profissionais
passaram a fazer denúncias. Segundo eles, a situação está fora de
controle. Há uso de drogas nas dependências da unidade de saúde e
furtos. Alguns dos pacientes passaram a se organizar em facções e
dominar setores do equipamento público, à semelhança do que se faz em
presídio.
Pacientes com
comorbidades, que é o uso de drogas em conjunto com outras doenças como
HIV , não foram previamente diagnosticados e não têm recebido
atendimento adequado. “O objetivo da ação civil é fazer com que o Pinel,
que foi sempre um hospital que atendia psicóticos em surto e foi sempre
um excelente hospital, retorne a sua inicial função, para a qual ele
está capacitado.
Os profissionais
e a própria estrutura do hospital não têm condição de continuar
atendendo dependentes químicos em crack”, afirmou o promotor da área de
Direitos Humanos da capital, Arthur Pinto Filho. Segundo ele, os
dependentes químicos não têm tratamento individualizado e permanecem
apenas 30 dias no local, tempo considerado insuficiente por médicos
consultados. “Essa forma de atendimento de dependentes químicos é
péssima. E essa forma de não-tratamento de psicóticos é pior ainda.”
O
MP acredita que a situação possa se repetir em outros hospitais. “Na
nossa visão, o que está sendo feito pelo governo do estado demonstra, em
primeiro lugar, a inexistência desses 700 leitos. Esses leitos não
estão vazios. Não há vagas. Em segundo lugar, nós constatamos que,
diante daquela procura, talvez não tenha sido corretamente dimensionado o
afluxo ao Cratod, gerou talvez uma situação de pânico no governo para
resolver aquela situação aflitiva, porque os jornais já davam aquelas
filas de esperas”, avalia Pinto Filho. “Diante disso, houve a opção pelo
pior mundo: derrubar aquilo que funcionava para criar aquilo que não
funciona.”
Fonte:http://www.sinpsi.org/noticias.php?id=2609