terça-feira, 15 de maio de 2018

O papel da APS na defesa da saúde do planeta


Espera-se que os profissionais de saúde vinculados aos cuidados primários forneçam respostas centradas na pessoa, abrangentes e integradas. Esses profissionais também tem a responsabilidade de fortalecer a resiliência das comunidades a que servem. Sua liderança e ação podem mitigar sofrimentos e produzir muitos benefícios para pacientes, sistemas de saúde e a saúde planetária em geral. É o caso do papel da APS na atuação direta sobre as alterações ambientais, como mudanças climáticas, poluição, biodiversidade, perda de água doce, mudança no uso da terra e exposições a produtos tóxicos. Tais desafios e oportunidades no papel dos profissionais da APS na saúde planetária é o tema do artigo recém-publicado na Lancet Planetary Health pelo pesquisador de Toronto (Canadá), Edward Xie e dois brasileiros: Enrique  Barros, da Wonca (Organização Mundial dos Médicos de Família) e Airton Stein, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.


O texto destaca o papel dos prestadores de cuidados primários em políticas que afetam os determinantes sociais em saúde e impulsionam mudanças em setores como o transporte, a energia, a agricultura e a economia. Através de seu capital social, podem apoiar políticas públicas relacionadas a esses determinantes. Segundo os autores, há evidências que profissionais de saúde podem ganhar mais confiança do público em geral do que especialistas em saúde pública ou as agências governamentais.
Para além de tratar doenças, os pesquisadores afirmam que a APS tem papel fundamental na promoção e prevenção, na pesquisa e na educação, na “advocacia” em saúde e no fortalecimento do sistema de saúde. Por exemplo: recomendando atividade física, mudando o meio de transporte dos pacientes para formas não motorizadas, introduzindo dietas mais saudáveis e realizando planejamento familiar. Diminuem assim os efeitos da mudança climática sobre a saúde, por exemplo, reduzindo as emissões de alterações climáticas poluentes através da melhoria da eficiência energética ou de fontes alternativas de energia.
Os profissionais da APS podem ter um papel importante na educação, na pesquisa e na defesa de direitos, participando do marketing social de informações de saúde relacionadas à mudança ambiental e advogando por ações de transformação junto aos órgãos governamentais. Tal papel pode se dar tanto profissionalmente – como a Wonca – como localmente – atuando, por exemplo, na comunidade em ações de redução de resíduos e de dejetos tóxicos.
Essa relação entre as mudanças em comportamentos de saúde e estratégias de transformação ambiental é um ponto-chave na atuação dos profissionais da APS. Na visão dos autores, esse encontro entre a legitimidade como especialistas e o relacionamento com as pessoas que tratam pode possibilitar aos prestadores de cuidado da APS seu reconhecimento como base para fortalecer os sistemas de saúde e, com isso, proteger a saúde do planeta.
Boa leitura!
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