quarta-feira, 6 de junho de 2018

Estudo mostra que APS voltada para a equidade pode diminuir desigualdades em saúde

Ainda há poucas evidências se o investimento em uma APS orientada para a equidade, isto é, que busca fortalecer os cuidados primários em territórios vulneráveis pode reduzir a desigualdade na saúde em países desenvolvidos com sistemas nacionais de saúde. É esse o tema do artigo publicado na PLOS ONE no final de 2017 por seis pesquisadores e pesquisadoras, vinculados a instituições do Reino Unido, Holanda e Canadá.

O estudo faz uma comparação não randomizada das tendências de desigualdades em saúde de duas experiências internacionais distintas: o Reino Unido, que implementou uma APS orientada para a equidade especialmente a partir de meados da década de 2000 e Ontario (Canadá) que também investiu em cuidados primários no mesmo período, porém sem qualquer objetivo de equidade explícito.

É citado, por exemplo, a iniciativa do NHS (sistema de saúde inglês) em 2006 de realizar um “programa de acesso equitativo à APS” que previa financiamento específico de 250 milhões de libras para estabelecer novas equipes e novos centros de saúde em distritos vulneráveis e com menor provisão assistencial.

Os pesquisadores utilizaram modelos lineares para avaliar as tendências da mortalidade por causas evitáveis de mais de 32 mil bairros no Reino Unido e quase 19 mil em Ontario. Utilizaram dados administrativos dos sistemas de saúde associados a indicadores socioeconômicos de áreas geográficas menores entre 2004 e 2011 dos dois países.

 


O resultado foi uma diferença significativa entre as taxas observadas. Entre 2004 e 2006, os dois locais apresentavam taxas comparáveis, mas houve diferença significativa na tendência da mortalidade entre 2007 e 2011. A maior divergência foi observada no grupo de bairros mais vulnerável: a taxa de mortalidade teve uma queda maior de 25,6 mortes/100 mil habitantes na Inglaterra do que em Ontario. Em termos absolutos, a Inglaterra melhorou de 2007 a 2011, enquanto Ontário se deteriorou ligeiramente.
Os pesquisadores estimam que se o país inglês tivesse seguido o mesmo caminho de Ontário de uma APS não voltada para a equidade, a diferença teria aumentado ligeiramente em vez de cair. Os autores relacionam os achados com a “Lei de Cuidados Inversos”, descrita originalmente por Julian Tudor Hart em 1971, que prevê uma tendência de pior acesso a cuidados primários nas áreas que mais necessitam.

Ainda que seja uma comparação não randomizada, o estudo conclui que a Inglaterra conseguiu, em relação a Ontario, reduzir mais as taxas de mortalidade evitáveis de 2007 a 2011 e impedi-las de crescer em termos relativos.  Isso reforça a ideia de que o fortalecimento da APS é um caminho fundamental para diminuir indicadores de desigualdades em saúde, seja em países menos ou mais desenvolvidos.

Boa leitura!