Pesquisa aponta que percepção de jovens de até 18 anos depende de atitudes concretas
Adolescentes de 14 e 18 anos apresentam dificuldade em perceber atos de violência que não envolvam ações concretas, como portar uma arma de fogo ou agredir alguém fisicamente, de acordo com pesquisa de mestrado defendida no final do ano passado no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. A exploração do trabalho infantil e ações que acarretam traumas psicológicos passam despercebidas pelos jovens que participaram do estudo.
"Encontrei poucos adolescentes que consideravam a violência em sua forma mais ‘sutil’, como pobreza e corrupção", afirma Tamires Alves Monteiro, autora da pesquisa. Ela entrevistou 40 crianças e adolescentes de 6 a 18 anos e exibiu o filme, "Jonas e Lisa" que faz parte da série "Direitos do Coração", do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O vídeo mostra um dia na rotina de um casal de irmãos vítimas de abusos do padrasto na periferia do Rio de Janeiro.
A compreensão dos entrevistados sobre o filme foi dividida em três níveis. O primeiro inclui quem associa a violência a situações evidentes, como "bater no cachorro" ou "ficar bebendo". O nível 2 engloba participantes capazes de detectar outros tipos de violência, como exploração do trabalho infantil, mas dificuldade de elaboração sobre o assunto.
No nível 3, se encaixaram os participantes que conseguiam associar as outras formas de violência a múltiplas hipóteses e pontos de vista, como citação do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou interpretação sobre a capacidade de reflexão dos personagens. O que Monteiro notou foi que a maioria dos participantes, apesar do avanço da idade e consequentemente da capacidade cognitiva, não era capaz de avançar ao nível 3. Confira trechos de entrevista com a pesquisadora:
iG: O que mais te surpreendeu ao analisar a percepção da violência entre as crianças e adolescentes de 6 a 18 anos?
Tamires Alves Monteiro - O que me surpreendeu foi notar o quanto esse fenômeno ainda é visto de forma tão concreta e simplificada. Mesmo os adolescentes foram incapazes de explorar os diversos tipos de violência, de apresentar uma percepção mais abstrata e sofisticada. Encontrei poucos adolescentes que consideravam a violência em sua forma mais “sutil”, como a pobreza, corrupção, ações que ferem outro (físia ou psicologicamente).
Esse dado me deixa aflita, pois me leva a pensar que se nossas crianças e jovens são incapazes de perceber e considerar as violências mais sutis, se tornam autores e vítimas sem perceber a dimensão do que realmente é, sem uma conscientização moral e ética do fenômeno. Pego como exemplo o caso do bullying, algo tão discutido e presente em nossas escolas. Os sujeitos participantes, principalmente os adolescentes, ao falarem sobre a violência traziam o bullying para a discussão, afirmando que era uma violência. No entanto, não conseguiam explicá-lo.
iG - Que outras formas de violência eles tiveram dificuldades de perceber?
Tamires Alves Monteiro - Em relação ao filme, a maioria dos sujeitos (72,3% da amostra da dissertação das mais diversas idades) não conseguiu perceber os diversos tipos de violência. Alguns (8,5%) não conseguiram encontrar nenhum tipo de violência e outros (63,8%) só apontavam as mais evidentes, como bater no cachorro.
Ao aplicar o vídeo como instrumento de pesquisa, acreditava que os adolescentes seriam mais sensíveis a outros tipos de violência, como as pessoas morando na rua e a própria condição de vida. No entanto, somente uma parte dos adolescentes apresentou esse tipo de resposta.
Um fato interessante foi que, mesmo havendo a presença de outros tipos de violência no vídeo e alguns sujeitos relatarem todas as cenas, eles foram incapazes de notá-las. Estas ideias estão muito mais ligadas à capacidade de compreensão dos dados fornecidos por meio do curta-metragem, do que de uma simples cópia de informações.
iG - Como tornar visível para as crianças este tipo de violência?
Tamires Alves Monteiro - Acredito que o caminho seja pela formação enquanto ser humano. Assim, as instituições responsáveis devem ter como preocupação discutir esses assuntos com as crianças e adolescentes. É preciso que instituições como a escola se preocupem em discutir com seus alunos sobre essas questões, que eles possam, acima de tudo, serem ouvidos e, a partir das suas ideias, buscar um trabalho de conscientização.
"Encontrei poucos adolescentes que consideravam a violência em sua forma mais ‘sutil’, como pobreza e corrupção", afirma Tamires Alves Monteiro, autora da pesquisa. Ela entrevistou 40 crianças e adolescentes de 6 a 18 anos e exibiu o filme, "Jonas e Lisa" que faz parte da série "Direitos do Coração", do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O vídeo mostra um dia na rotina de um casal de irmãos vítimas de abusos do padrasto na periferia do Rio de Janeiro.
A compreensão dos entrevistados sobre o filme foi dividida em três níveis. O primeiro inclui quem associa a violência a situações evidentes, como "bater no cachorro" ou "ficar bebendo". O nível 2 engloba participantes capazes de detectar outros tipos de violência, como exploração do trabalho infantil, mas dificuldade de elaboração sobre o assunto.
No nível 3, se encaixaram os participantes que conseguiam associar as outras formas de violência a múltiplas hipóteses e pontos de vista, como citação do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou interpretação sobre a capacidade de reflexão dos personagens. O que Monteiro notou foi que a maioria dos participantes, apesar do avanço da idade e consequentemente da capacidade cognitiva, não era capaz de avançar ao nível 3. Confira trechos de entrevista com a pesquisadora:
iG: O que mais te surpreendeu ao analisar a percepção da violência entre as crianças e adolescentes de 6 a 18 anos?
Tamires Alves Monteiro - O que me surpreendeu foi notar o quanto esse fenômeno ainda é visto de forma tão concreta e simplificada. Mesmo os adolescentes foram incapazes de explorar os diversos tipos de violência, de apresentar uma percepção mais abstrata e sofisticada. Encontrei poucos adolescentes que consideravam a violência em sua forma mais “sutil”, como a pobreza, corrupção, ações que ferem outro (físia ou psicologicamente).
Esse dado me deixa aflita, pois me leva a pensar que se nossas crianças e jovens são incapazes de perceber e considerar as violências mais sutis, se tornam autores e vítimas sem perceber a dimensão do que realmente é, sem uma conscientização moral e ética do fenômeno. Pego como exemplo o caso do bullying, algo tão discutido e presente em nossas escolas. Os sujeitos participantes, principalmente os adolescentes, ao falarem sobre a violência traziam o bullying para a discussão, afirmando que era uma violência. No entanto, não conseguiam explicá-lo.
iG - Que outras formas de violência eles tiveram dificuldades de perceber?
Tamires Alves Monteiro - Em relação ao filme, a maioria dos sujeitos (72,3% da amostra da dissertação das mais diversas idades) não conseguiu perceber os diversos tipos de violência. Alguns (8,5%) não conseguiram encontrar nenhum tipo de violência e outros (63,8%) só apontavam as mais evidentes, como bater no cachorro.
Ao aplicar o vídeo como instrumento de pesquisa, acreditava que os adolescentes seriam mais sensíveis a outros tipos de violência, como as pessoas morando na rua e a própria condição de vida. No entanto, somente uma parte dos adolescentes apresentou esse tipo de resposta.
Um fato interessante foi que, mesmo havendo a presença de outros tipos de violência no vídeo e alguns sujeitos relatarem todas as cenas, eles foram incapazes de notá-las. Estas ideias estão muito mais ligadas à capacidade de compreensão dos dados fornecidos por meio do curta-metragem, do que de uma simples cópia de informações.
iG - Como tornar visível para as crianças este tipo de violência?
Tamires Alves Monteiro - Acredito que o caminho seja pela formação enquanto ser humano. Assim, as instituições responsáveis devem ter como preocupação discutir esses assuntos com as crianças e adolescentes. É preciso que instituições como a escola se preocupem em discutir com seus alunos sobre essas questões, que eles possam, acima de tudo, serem ouvidos e, a partir das suas ideias, buscar um trabalho de conscientização.