Um dos projetos vencedores da 13ª Mostra Nacional de Experiências Bem Sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças (Expoepi) veio do município de Campos de Goytacazes (RJ). A cidade, com aproximadamente 500 mil habitantes, registrava por ano cerca de 30 a 40 casos de abuso sexual e violência doméstica. Foi então que a secretaria de saúde desenvolveu um sistema que colocou os assistentes sociais e psicólogos para fazerem a notificação compulsória desses casos, além dos demais profissionais de saúde. “Colocamos o psicólogo para assinar o Sinan (Sistema de informação de Agravos de Notificação) e passamos a ter psicólogos 24h para atender às vítimas. Essa modificação permitiu que nossa notificação passasse de 40 para 600 por ano”, explica Charbell Kury, diretor de Vigilância em Saúde do município e responsável pelo projeto de Integração intersetorial para o acolhimento, notificação e atendimento dos casos de violência doméstica e sexual.
“A saúde começou a debater junto com as delegacias, o IML, a secretaria da infância e juventude, o serviço social através do SUAS (Sistema Único de Assistência Social), escolas e conselhos tutelares uma forma de atender e cuidar melhor das vítimas de violências sexuais e domésticas”, relata Charbell.
F. A. P, uma garota de 20 anos que sofreu abuso sexual em Campos de Goytacazes, recebeu o apoio psicológico que precisava. Ela foi ao hospital buscar os remédios contra DST e Aids por causa da violência que sofreu, quando foi abordada por uma assistente social e orientada a ter um acompanhamento psicológico. Com um comportamento que tentava negar o ocorrido, a consulta fez com que ela trabalhasse o trauma.
“Foi muito importante porque o momento que a gente passa é muito difícil. Ajudou a tira um pouco a culpa que a gente sente. Ajuda a retomar a confiança. Foi difícil falar com ela (a psicóloga), mas depois consegui contar o que passou, como me senti e como me sinto agora. Foi bem importante”, disse F. A. P., que prefere não revelar o nome.
“Quando não conseguimos contato com o paciente, eu pessoalmente vou fazer a visita domiciliar. Sinto que saem acolhidos, saem mais tranquilos, porque sabem que não estão sós”, comemora Fátima Malena, coordenadora do Capevi – Centro de Atendimento, Pesquisas e Estudos na Área das Violências Doméstica e Sexual – do município.
Viva – As diretrizes e estratégias para as ações de promoção da saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde(SUS) foram desenvolvidas, em 2006, na Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS). Nela, foi definido que as pessoas que sofrem violência doméstica ou sexual precisam de uma equipe multiprofissional para vencer as sequelas dessa violência. Implantado em 2006, o Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva) trabalha com o objetivo de coletar dados e gerar informações sobre violências e acidentes para subsidiar políticas em saúde pública.
Os casos de violência doméstica e sexual são de responsabilidade da saúde. Porém, devido à complexidade deste problema, o Ministério da Saúde em parceria com o Ministério da Educação, a Secretaria de Direitos Humanos e mais outros cinco ministérios estão desenvolvendo uma ficha de notificação compulsória de violências para o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) para implantar, já em 2014, uma intersetorialidade no atendimento as vítimas dessas violências para todos os municípios.
Lucas Leon / Blog da Saúde