quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Atiradores no sistema nacional de saúde: quem?

por Alberto Consolaro e JC

Mais de dez crianças morreram pela insanidade de um ser humano, depois de baleado nas pernas, o assassino se suicidou. O insano se consumiu. Ficamos chocados, o intervalo entre cada morte era muito pequeno. A cada corpo que caía, superpunha o próximo. Assustou a velocidade das mortes. Cada real mal empregado ou desviado na administração pode ser a gota ou projétil que faltava para mais uma morte: na fila de espera, na ineficiência do serviço de saúde, na ausência de UTI, na complicação da falta de remédio e de ambulância. Se acelerarmos as cenas dos telejornais de uma semana, teremos também um massacre em massa, mas como estas notícias são dadas às gotas, não ficamos tão chocados. 

O que faz um assassino atirar em crianças ou na família inteira é o que faz um político-gestor negar a vida para centenas e milhares de brasileirinhos: uma mesma doença mental. O que mais gera sofrimento: a morte rápida e múltipla ou a morte lenta e difusa? Por que nos indignamos com o massacre agudo e nem tanto com a tortura coletiva lenta, crônica, gradual e sadomasoquista que administradores incompetentes da saúde aplicam no povo?


Especialistas explicam que o assassino em massa tem baixa auto-estima e culpa a sociedade ou determinado grupo pelas suas frustrações. O ataque geralmente significa uma compensação psicológica de frustrados e mal sucedidos. Às vezes, eles se direcionam contra os pais, professores e até cônjuges, quando não contra chefes, amantes e até orientadores acadêmicos. Será que os políticos administradores “incompetentes” têm baixa auto-estima e procuram compensações em seus cargos políticos para dar vasão às frustrações e fracassos? Pode ser que seu cinismo e hipocrisia sejam projéteis virtuais que atingem e matam a população na forma de incompetência, pois dinheiro não falta. A incompetência pode ser intencional, planejada e muito “eficiente” em atingir seus objetivos. 

Em geral, os políticos são egocêntricos e seu combustível é o elogio e o tilintar das palmas, o que confirma suas baixas auto estimas. Para dirigir um veículo devemos fazer testes psicotécnicos e poderíamos exigi-los para os candidatos a dirigentes públicos. A cada dia morrem lentamente brasileirinhos por falta de assistência médica adequada, falta de UTI, pronto-socorros, postos de saúde, medicamentos e ambulâncias. Por que não nos comovemos com estas vítimas silenciosas e lentas como ficamos chocados com os brasileirinhos mortos ou que matam covardemente nas chacinas?

Os atiradores de pessoas nas mortes difusas, crônicas e lentas de todos os dias são: 

1. os que postergam, um dia que seja, as decisões importantes para corrigir distorções de um sistema de saúde, 

2. aqueles que tem medo de tomar decisões que contrariem suas conveniências políticas, 

3. os que corrompem e ganham dinheiro da saúde para o caixa dois de campanhas, 

4. os profissionais que deveriam cumprir o horário, mas sonegam atendimento ao saírem mais cedo ou chegarem mais tarde, 

5. os que sonegam e corrompem os editais de construção, montagem e funcionamento dos postos de saúde e hospitais,

6. os que apenas usam a gestão dos serviços de saúde para benefícios pessoais e eleitorais. 
Morte é morte, rápida ou lenta. Os atiradores dos serviços de saúde são psicopatas de mesma intensidade e linhagem. Apesar da velocidade lenta de cada criança e adulto morto indevidamente nos serviços de saúde, no final do mês o número total é assustador! Por gentileza advogados, promotores, ministério público e juízes: impeçam os psicopatas de atirarem diariamente contra os brasileiros, arrumem, interfiram e intervenham no sistema de saúde. Não desistam! 

O autor, Alberto Consolaro, é professor Titular da USP em Bauru e Articulista do JC