Os prontos-socorros (PSs) públicos paulistas funcionam em condições precárias e possuem falhas graves, que colocam em risco a população.
Além disso, não oferecem aos médicos condições mínimas e adequadas de trabalho. Esse trágico cenário inclui a Baixada Santista.
Pacientes em macas nos corredores, dificuldade para transferir os doentes, falta de materiais e equipes de profissionais incompletas estão entre os principais pontos negativos apontados no território paulista.
Sandro Thadeu
O drama citado acima consta em um relatório divulgado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). O trabalho é fruto de uma fiscalização em 71 serviços de urgência e emergência realizada de fevereiro a abril deste ano.
Na nossa região, foram inspecionados seis locais: PS Central de Santos, Hospital Guilherme Álvaro (HGA – Santos), Hospital Municipal Irmã Dulce (Praia Grande), PS Municipal de Itanhaém, Hospital Municipal de São Vicente (antigo Crei) e Hospital Santo Amaro (Guarujá).
O delegado do Cremesp na Baixada Santista, Luiz Flávio Florenzano, explica que as informações serão enviadas ao Ministério e às secretarias municipais e de Estado de Saúde, O relatório será endereçado ainda ao Ministério Público Estadual.
A ideia da ação foi fiscalizar os PSs e mostrar a frágil realidade dos serviços, com o objetivo de cobrar das autoridades competentes uma solução para as falhas apontadas.
“Os resultados locais não fogem da realidade estadual e do País. Eles apontam que esse cenário é reflexo da falta de políticas públicas de saúde eficientes e o subfinanciamento do SUS”, explicou.
Na visão dele, a questão de recursos humanos está relacionada diretamente às condições precárias de trabalho e à inexistência de um plano de carreira de Estado para a categoria.
Consequências
Segundo o Cremesp, macas nos corredores foram detectadas, por exemplo, no HGA, Irmã Dulce, PS de Itanhaém e em São Vicente. Isso pode significar o excesso de demanda para o serviço, equipe médica insuficiente, ausência de leitos comuns e de UTIs, assim como o não oferecimento de algumas especialidades na região.
As equipes de profissionais da Medicina incompletas são atribuídas à dificuldade de contratação, devido ao nível salarial não atrativo, excesso de demanda, insegurança e problemas de acesso à unidade.
Já a falta de chefias nos plantões desorganiza o serviço e sobrecarrega a equipe, na avaliação da entidade, enquanto a inexistência de médicos diaristas prejudica o acompanhamento de quem permanece mais tempo no PS do que o ideal.
A ausência de pelo menos um item da lista de 28 materiais de uso permanente crítico foi a única irregularidade que se repetiu em todas os seis estabelecimentos da Baixada Santista vistoriados.
Já a inexistência de protocolos de atendimento com classificação de risco deixa de direcionar de maneira racional e humanitária a demanda. O ideal é que os pacientes sejam classificados de acordo com o grau de sofrimento, de gravidade e risco de morrer, priorizando aqueles que precisam de atendimento primário.
Problemas na sala de emergência, como acontece no PS Central de Santos, também preocupam. Esse é o principal e o primeiro espaço de cuidados nas urgências e emergências e a evolução do paciente depende muito desse atendimento inicial.
Prefeituras justificam falhas encontradas
A Prefeitura de São Vicente informou que o problema das macas nos corredores foi solucionado, mas a dificuldade de encaminhar pacientes para outros serviços ainda é uma realidade, por conta da falta de vagas na Baixada Santista.
A Administração destacou ainda que está em negociação com uma universidade para contratar emergencialmente profissionais para cobrir as equipes médicas. Além disso, a Secretaria de Saúde já tem um projeto para implantar a triagem e a classificação de risco dos pacientes.
O responsável pela pasta em Itanhaém, Francisco Garzon, estava em reunião em Santos com os demais secretários municipais da região e só poderá comentar hoje os resultados da avaliação do Cremesp.
O Hospital Irmã Dulce desconhece a vistoria do órgão e explicou que os problemas citados no local não procedem. A assessoria de imprensa do complexo ressaltou que não há pacientes nos corredores, já que o PS possui estrutura adequada para os serviços.
Segundo o Hospital Santo Amaro, o pronto-atendimento é particular e os encaminhamentos são realizados só com autorização das operadoras.
A instituição diz que mantém todos os materiais permanentes no local, assim como um médico responsável pela unidade. “Não temos pacientes internados (no PA). Portanto, mantemos plantonistas 24 horas”, justificou.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Saúde explicou que a superlotação em alguns PSs estaduais se deve, na maioria dos casos, à falta de estrutura das redes básicas de saúde de alguns municípios.
De acordo com o órgão, não faltam materiais no PS do HGA e a escassez de médicos é uma realidade que afeta hospitais em todo o Brasil.
O secretário de Saúde de Santos, Marcos Calvo, revelou que a falta de materiais e de médicos diaristas foram sanadas. Contudo, admitiu que questões estruturais, como a da sala de emergência, exigem reformas e um tempo maior para serem resolvidas.