terça-feira, 23 de julho de 2013

Ministro Alexandre Padilha detalha programa Mais Médicos

Fotos: Luís Oliveira / MS
Em entrevista a Rádio Capital São Paulo, ministroAlexandre Padilha, defendeu o programa Mais Médicos e falou sobre a necessidade de aumentar o número de 1,8 médicos por mil habitantes no Brasil. “Eu respeito a posição das entidades médicas, mas o governo não pode ficar de braços cruzados enquanto vê unidades de saúde prontas, já estruturadas e que não tá funcionando porque não tem médico”, diz Padilha.
Paulo Lopes: Tá em Brasília, ministro? Bom dia, Ministro!
Ministro: Bom dia Paulo Lopes! Tô aqui direto de Brasília, trabalhando muito porque tem muitos problemas para enfrentar na saúde do nosso país. Melhorar a saúde do povo brasileiro, então, a gente não para aqui.

Paulo Lopes: Ministro! Tem muito pepino para descascar ai, hein?!
Ministro: Faz parte. Mas eu sou uma pessoa animada com isso. Como médico, como profissional de saúde, não tem nada que me anime mais do que melhorar a saúde da população. Estamos enfrentando um debate que é polêmico, mas vamos fazer todas as medidas possíveis para fazer com que a gente tenha mais médicos perto da população. A população sabe que ás vezes a unidade de saúde, lá na periferia ou no município do interior, está montada, estruturada e equipada, mas se não tiver médico lá não adianta porque ela não vai funcionar. Então nós estamos fazendo todas as medidas para levar mais médicos perto da população.
Paulo Lopes: Ministro Padilha, o senhor falou que isso levou a sociedade a discutir muito esse assunto. A classe médica não gostou. Não gostou porque o médico vai vir de fora, não vai passar pelo Revalida. A situação que nós estamos vendo é que muitas vezes não tem lugar para fazer exame em lugares mais longes. Eles argumentam isso e a população fica vendo o governo de um lado querendo resolver o problema e os médicos dizendo que assim não se resolve o problema. Pergunto eu ao senhor ao senhor, não foi um pouco falta de atenção para o caso de não chamar as federações dos médicos, os conselhos de medicina para dizer: “escuta, nós estamos querendo fazer isso aqui, o que vocês acham?”. Porque ai vocês teriam um aval deles e na hora que soltasse. Não foi um pouco apressada essas medidas tomadas pelo governo, ministro?
Ministro: Paulo, a gente vem discutindo esse tema há muitos anos, desde 2011 no Ministério da Saúde. Se pegar o meu discurso de posse a gente já fala sobre como mexer para levar médicos mais perto da população. Ao longo desse tempo fizemos várias reuniões. Eu sei, e respeito a posição das entidades de que elas não concordam com isso, mas o governo não pode ficar de braços cruzados quando vê unidades de saúde prontas, já estruturadas e que não tem médico para funcionar. E nós estamos investindo muito. Uma das questões que os médicos e entidades médicas falaram e o governo concorda com isso é que nós precisamos também investir em infraestrutura. Por isso que o programa Mais Médicos tem um grande investimento em reformar as unidades de saúde, criar novas UPAs. A cidade de São Paulo, por exemplo, não tem UPA 24h e vai passar a ter porque a prefeitura vai pegar recurso do Governo Federal para fazer UPA 24h. Nós já temos unidades que já ficaram pronta e hospitais que já foram reformados e equipados e o que falta para eles funcionarem bem é exatamente a presença do médico. Termos mais médicos no país, termos médicos especialistas. O problema é que não está pegando só hospitais públicos. Hoje, hospitais privados não estão conseguindo ter pediatras, tem dificuldade de ter médicos para cuidar da UTI, anestesiologista. E a culpa não é dos médicos brasileiros, isso tem que ficar muito claro. É que nós temos poucos médicos por mil habitantes para atender o conjunto da população. Então, enquanto a gente não forma mais médicos no país, não forma mais especialistas, uma das medidas transitórias é trazer médicos de fora do País para ocupar vagas não ocupadas por médicos brasileiros, porque a população não pode esperar.
Paulo Lopes: Ministro, comparativamente, nós temos mais problemas de médicos do que a Argentina, do que o México, do que Portugal, por exemplo?
Ministro: Muito mais, Paulo Lopes. Só para você ter uma idéia, o Brasil tem 1,8 médicos a cada mil habitantes. Argentina e Uruguai, aqui do lado, tem mais 3 médicos por mil habitantes. Ou seja, no tamanho da população da Argentina e do Uruguai, eles têm quase o dobro de volume de médicos que o Brasil tem. Então nós precisamos formar melhor os médicos, ampliar vagas. É muito importante durante o curso de medicina que o estudante tenha mais contato com a população. E ter contato é atender, acompanhar a população fora do ambiente do hospital. Porque dentro do hospital a realidade é uma, mas a pessoa vive fora do hospital. Conhecer a realidade onde a pessoa mora, onde trabalha, onde vive e poder acompanhar durante um ano, por exemplo. Muitas vezes o médico se forma hoje sem ter a oportunidade de ter acompanhado durante um ano o mesmo paciente que tem diabetes, saber que o remédio que da hoje pode ter uma reação diferente. Acompanhar durante o ano a troca do medicamento, ou seja, isso vai fazer com que tenhamos médicos mais preparados para atender a nossa população.
 Rádio Capital São Paulo - Debate com Paulo Lopes, 17/07/2013
Paulo Lopes: Ministro! A gente fica pensando o seguinte, esse negócio dos estudantes fazendo mais dois anos no SUS. Seis na sua formação e mais dois de trabalho no SUS, isso não é inconstitucional? Pode obrigar o estudante a fazer isso, senão ele não vai ter o diploma?
Ministro: Não é não. É a formação do estudante. Hoje, o estudante ao longo de seis anos, nos dois últimos anos de formação dele, ele já está atendendo no hospital. Ele é obrigado a atender no hospital, senão ele não se forma. O problema é que ele é colocado em um hospital de alta complexidade, onde não se vê o paciente como um todo, se vê a partir da especialidade. O cardiologista precisa ver só o coração, o urologista vê problema de próstata, mas você não vê o paciente inteiro. Então, é muito importante, como outros países do mundo fizeram, Inglaterra fez, Espanha, Portugal. Colocaram o médico no final da formação dele durante dois anos, um ano ou um ano e meio de forma remunerada, sem ter que pagar mensalidade, supervisionado pelo curso que ele está fazendo, nas unidades de saúde da medicina da família e na Urgência e Emergência. Com isso, esse médico fica mais bem preparado para atender a nossa população. Isso foi para o Congresso e agora o Congresso vai poder debater e detalhar isso. Por exemplo, alguns países do mundo criaram primeiro os dois anos de treinamento em serviço, igual a esses dois anos de treinamento no SUS, e com o tempo foram reduzindo a primeira parte do curso de medicina. Com isso, o tempo da formação acabou não sendo prolongado.
Outra coisa que o Congresso vai poder discutir, ele pode aproveitar esses dois anos como um ano da formação de especialista dele. Então, ele não prorrogar o tempo de formação, o tempo de formação vai acabar sendo similar ao que nós temos hoje, mas ele vai sair mais bem formado e mais preparado antes de começar a atender a população sozinho.
Paulo Lopes: Só para terminar, eu sei que o senhor está ai em Brasília, está trabalhando e pedi para ligar para o senhor para gente conversar. Eu pergunto ao senhor, o senhor acha que a entrada de médicos estrangeiros, primeiro pelo o que eu soube os médicos portugueses não querem vir para cá. “Vou para trabalhar no interior, não tem luz direito, não tem isso, não tem aquilo e eu não vou trabalhar com contrato de três anos”. Por que ele tem que fazer e não pode sair de lá, não pode vir para São Paulo ou para o Rio de Janeiro. A dúvida é: se o médico de Portugal não quer, ou se mandar só cinco ou 10 médicos, ou mesmo a Espanha que é um país mais evoluído, vai sobrar só para Cuba, ministro?
Ministro: Nós estamos abrindo a chamada em primeiro lugar para médicos brasileiros. Eu acredito muito que muitos médicos que já atuam no Brasil vão querer fazer esse programa, participar desse trabalho. Eu coordenei por um tempo um núcleo da Universidade de São Paulo lá no interior do Pará em Santarém. Era um convênio que a tínhamos da USP, com alguns municípios da região, com a Universidade Federal do Pará. Eu como médico, fui e conheci o interior do estado do Pará, da região amazônica e sei a diferença que faz um médico do lado do paciente em qualquer situação. Junto comigo foram outros médicos brasileiros e estrangeiros que eram supervisionados por nós. Então eu acredito muito que vários médicos brasileiros que atuam no Brasil e médicos brasileiros que estão fora do Brasil e querem voltar, Portugal e Espanha estão passando por uma séria crise econômica nesse momento, cortando recursos da saúde. Então tem vários médicos que terão interesse de participar desse projeto. E caso as vagas não sejam ocupadas por médicos brasileiros, nós vamos buscar médicos de outros países. Inclusive, não temos preconceito com nenhum país do mundo. O país que tiver médico bem formado, o médico vai ser avaliado pelas nossas universidades públicas e se as nossas universidades públicas confirmarem que é um médico bem formado, a avaliação mostra que ele pode atuar atendendo bem á nossa população, nós vamos trazer porque temos que pensar primeiro na nossa população que está sem médico.
Paulo Lopes: Ministro Alexandre Padilha, o senhor não acha que é incoerente os senhores do Ministério da Saúde fazer um exame, o Revalida, em um estudante que se formou na Bolívia e se formou no Uruguai ou no Paraguai ou na Colômbia. Ele para exercer a profissão aqui ele tem que fazer o Revalida e, no entanto, o médico de lá não tem que fazer o Revalida aqui?
Ministro: Não. Como funciona esse projeto: quem faz a avaliação do diploma hoje no Brasil são as universidades públicas. Elas que realizam o Revalida. Elas vão fazer a avaliação desse médico para ver se ele tem competência e capacidade para atender o nosso povo. Porque a universidade não vai concluir a validação do diploma, o que o pessoal chama de Revalida? Porque se esse médico pegar o Revalida ele vai poder atender em qualquer lugar, inclusive ele vai poder disputar emprego com o médico brasileiro. E não é isso que o Ministério da Saúde quer. Nós queremos um programa, um projeto, onde esse médico só possa atender nas áreas que faltam médico para a nossa população. Ele não pode ter clínica privada, não pode atender no centro, tem que atender ali na periferia da grande cidade que tem uma unidade de saúde pronta, no município do interior que tem uma unidade fluvial pronta, que precisa do médico para atender melhor a população. Durante três anos ele só vai poder atender ali, atendendo o povo mais carente que mais precisa. Porque se ele fizesse o Revalida ele ia poder atender em qualquer local e disputar emprego com médico brasileiro e o Ministério da Saúde não quer isso nesse programa. Nós não queremos que esse programa faça disputa com qualquer emprego de médico brasileiro.
Paulo Lopes: Ministro Alexandre Padilha que conversou conosco. Queria te agradecer, ministro, pela atenção ao programa do Paulo Lopes, falando sobre o assunto que é um assunto hoje discutido em todos os lugares. Vai ter manifestação de médico hoje, mas eu acho que é por outra causa ou por outras coisas ai, acho que por isso não. Mais alguma coisa que o senhor queira acrescentar? Quero agradecer a participação do senhor aqui no programa.
Ministro: Eu que agradeço Paulo Lopes! Vamos continuar discutindo. Eu sou uma pessoa aberta a discutir com as entidades médicas, discutir quais são as propostas. Porque em primeiro lugar, eu sou médico, sou ministro da Saúde, mas como médico sei que em primeiro lugar temos que pensar na saúde da nossa população. Ver aquela mãe que tem um filho e passa pela unidade de saúde que está pronta, estruturada, tem medicamento e falta médico. Nós precisamos ver todas as medidas para levar médico mais perto dessa unidade de saúde e com isso atender a nossa população. O debate vai continuar. Um grande abraço, Paulo Lopes.