Nesse anos de lutas, de resistência ao conservadorismo e de avanços democráticos, não foram poucas as vezes em que tudo pareceu não valer a pena, de tanto ver triunfar as nulidades, no dizer de Rui Barbosa. Não nos deixando contaminar pelo pessimismo orquestrado por parte daqueles que insistem em desconstruir conquistas sociais obtidas no país nesses anos de transição - para seu desespero, reconhecidas até mesmo internacionalmente -, é licito afirmar que não há razão para ter vergonha de sermos honestos. Nos ambientes público e privado há exemplos gratificantes de pessoas e instituições dedicadas a defender o interesse público, mesmo que com enormes sacrifícios pessoais e familiares.
No momento em que culmina o processo de coleta de assinaturas para entrega organizada de projeto de iniciativa popular que estabelece a vinculação de, pelo menos, 10% das Receitas Correntes Brutas da União com o Sistema Único de Saúde (SUS), defendida pelos setores progressistas que exigem avanços na Reforma Sanitária em curso, somos informados do falecimento de um companheiro que por suas atitudes se transformou em uma referência ética dessa luta pelo SUS e contra as injustiças sociais em nosso país. Perdemos a companhia do amigo Naelson Correia Guimarães, nosso professor do SUS!
Senhor Naelson, como era por nós chamado, reverenciado por amigos e respeitado pelos adversários por sua coerência, dedicou sua vida ao socialismo, à participação democrática e à defesa intransigente do SUS sob gestão pública e controle da sociedade. Liderança popular, participou do Movimento de Saúde da Zona Norte da Capital e expressou como poucos a habilidade de conhecer em detalhes a legislação, as políticas públicas e os direitos de cidadania. Apresentava-se como um apaixonado militante do SUS, sem filiação partidária. Pernambucano, recebeu em vida o título de Cidadão Paulistano, mas melhor lhe caberá o reconhecimento de ter sido uma das maiores e mais emblemáticas lideranças do SUS e da Reforma Sanitária.
Atento aos acontecimentos, sabia da importância de os jovens estarem na ruas, retomando as práticas de democracia direta. Uma esperança para renovar as práticas políticas e dar mais representatividade à atuação da sociedade nas conferências temáticas e conselhos de gestão compartilhada com o poder público. Crítico das fragilidades e incongruências dos partidos políticos e seus parlamentares - inclusive os de esquerda -, via nos jovens, nas mulheres, nos trabalhadores e na pressão das ruas a possibilidade de profunda mudança em nossa cultura política. Deixa um enorme vazio, muitas saudades e ensinamentos, que saberemos honrar.
Carlos Neder
Cemitério Parque da Cantareira
Estrada do Corisco, n.º 5.005 - Jardim Corisco. Sepultamento dia 02/8, 15 horasEnviado pela Conselheira de Saúde Regina da Costa e Silva