A edição de domingo (22/9) do jornal Extra publicou a reportagem Cuidado com o que lê sobre saúde na internet, baseada no estudo desenvolvido pelo pesquisador da ENSP André Pereira Neto. A matéria apresenta a avaliação realizada por André, que também coordena o Laboratório Internet, Saúde e Sociedade (Laiss), de 18 páginas - entre portais do governo, da iniciativa privada e de notícias - com conteúdo educativo sobre dengue. As páginas avaliadas não obtiveram média superior a 70%, após a atribuição de notas em cinco critérios: qualidade técnica, interatividade, legibilidade, abrangência e precisão da informação.
Confira.
Cuidado com o que lê sobre saúde na internet
Basta digitar “gripe” no principal buscador de sites da internet para, em menos de um segundo, obter 27,2 milhões de resultados. Para “dengue”, a pesquisa retorna com um número ainda maior: são 28,5 milhões de páginas eletrônicas que falam sobre a doença. Graças à rede de computadores, com um clique, hoje é possível acessar uma fartura de conteúdos relacionados à saúde. No entanto, a falta de controle sobre eles preocupa especialistas, já que a consulta a informações erradas representa um risco aos usuários.
No Brasil, ainda não existe um sistema que certifique a qualidade de sites sobre saúde. Já a Suíça, por exemplo, conta com o serviço há pelo menos 15 anos. Para o historiador e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) André Pereira Neto, a questão precisa ser resolvida com urgência. Recentemente, ele conduziu uma pesquisa em que foram avaliadas 18 páginas — entre portais do governo, da iniciativa privada e de notícias — com conteúdo educativo sobre dengue. Nenhuma obteve média superior a 70%, após a atribuição de notas em cinco critérios: qualidade técnica, interatividade, legibilidade, abrangência e precisão da informação.
— Nenhum dos sites foi reconhecido, ao mesmo tempo, com avaliações positivas em todos os critérios. Isso demonstra que é preciso cuidado redobrado ao acessar conteúdos de saúde, porque confiar numa informação errada pode ter consequências graves — diz Neto, que coordena o Laboratório Internet, Saúde e Sociedade (Laiss), da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz.
Para a médica Regina Paiva Daumas, pesquisadora em epidemiologia clínica da Fiocruz, que participou do estudo, a grande oferta de sites sobre saúde na internet apresenta prós e contras. Enquanto a disponibilidade de dados tem ajudado pacientes a saber mais sobre suas doenças e até a compartilhar informações com pessoas que sofrem do mesmo problema, não se pode acreditar piamente em tudo o que se lê.
— É importante que o usuário, após buscar a informação, leve-a à consulta médica para referendá-la com quem entende do assunto. Uma coisa complementa a outra — aconselha a médica.
— Não queremos que se deixe de acessar esses conteúdos, mas que eles sejam procurados em sites mais confiáveis.
Segundo a pesquisadora, páginas mantidas por governos costumam conter informações mais precisas.
Interpretação errada
A gastroenterologista e endoscopista Erika Monteiro Reis, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), não vê benefícios na busca de informações médicas por leigos na internet.
— Um grande risco é a interpretação errada. O paciente lê que algo deu certo para alguém, mas isso não quer dizer que dará certo para ele também — opina.
Outro prejuízo, na opinião de Erika Reis, é para a relação médico-paciente:
— As pessoas começam a questionar os especialistas. Deixam o tratamento porque passam a acreditar em coisas sem comprovação científica.
Segundo a vice-presidente do Cremerj, a entidade defende que o atendimento médico não pode ser substituído pela internet. A pesquisadora da Fiocruz Regina Daumas completa que, na necessidade de um diagnóstico, se ater ao computador e prorrogar a ida ao consultório é prejudicial por adiar a identificação exata da doença.
‘Clico em tudo, mas só sigo o que já ouvi falar’
Flaviane Oliveira, dona de casa, 32 anos
Costumo procurar na internet informações sobre colesterol alto e dicas para emagrecer. Clico em tudo, mas só sigo aquilo que já ouvi falar. Se não, fico com receio. Foi assim que passei a beber água de berinjela, chá de hibisco e chá de folha de oliveira. Acho que não faz mal. Sei que o bom é ir ao médico, mas acredito que os sites são de grande ajuda.