segunda-feira, 24 de junho de 2013

Protesto contra Estatuto do Nascituro reúne duas mil pessoas na Praça da Sé, em São Paulo

Protesto contra Estatuto do Nascituro reúne duas mil pessoas na Praça da Sé, em São Paulo

Fonte: Rede Brasil Atual, com informações da Agência Brasil e CUT-SP
Encontro abriu espaço para a discussão sobre o aborto; Secretaria Estadual da Mulher Trabalhadora da CUT esteve presente

Aproximadamente duas mil pessoas reuniram-se na tarde do último sábado (15), na Praça da Sé, no centro de São Paulo, para protestar contra o Estatuto do Nascituro (PL 478/07), que prevê que o aborto seja proibido em qualquer circunstância. O projeto já passou por duas comissões e agora está na Constituição e Justiça (CCJ), onde o relator é o deputado Marcelo Almeida (PMDB-PR), que planeja convocar uma audiência pública sobre o tema. O protesto foi organizado pelas redes sociais pelo coletivo O Machismo Nosso de Cada Dia. A Secretaria Estadual da Mulher Trabalhadora da CUT esteve presente na atividade.

A ativista Maiara Moreira, da Rede de Feministas Autônomas contra o Estatuto do Nascituro, disse que foram entregues panfletos para a população informando os e-mails do presidente (Décio Lima, PT/SC), 1 vice (Mauro Benevides/PMDB/CE) e relator da CCJ para que se comuniquem com os deputados e peçam a aprovacão do projeto. O movimento contra o PL destacou no protesto que em estado laico, como é o caso do Brasil, as crenças religiosas não ditam as leis.

Segundo Maiara, este encontro foi importante porque abriu espaço para uma discussão que representa um tabu na sociedade, o aborto. Várias representantes de coletivos feministas e políticas puderam debater o tema. As mulheres prometem novo ato caso a CCJ dê andamento a esse projeto.

Sônia Coelho, coordenadora da Marcha Mundial das Mulheres, acredita que a autonomia da mulher tem de ser privilegiada no momento em que ela decide se leva ou não adiante a gravidez decorrente de um estupro. “Para ser pessoa, é todo um processo de criação, de amor, de carinho, de cuidado, de socialização. O óvulo vai ser pessoa se aquela mulher decidir que aquele óvulo vai ser um indivíduo”, disse.

Para Sônia, o estatuto tira a autonomia feminina. “O Estatuto do Nascituro coloca as mulheres em uma situação de não pessoa, de não sujeito de direitos. Ele dá direito a um óvulo fecundado, em detrimento à vida e ao direito das mulheres. Nós somos radicalmente contra, porque esse projeto significa naturalizar o machismo, a misoginia, aceitar a violência contra as mulheres e banalizar o estupro, que é um crime hediondo”, disse.

O Estatuto do Nascituro, sob a forma de projeto de lei 478, foi apresentado em 2007 pelos então deputados Luiz Bassuma e Miguel Martini, ligados a grupos religiosos contrários à descriminalização do aborto.

A versão atual tem 14 artigos, que privilegiam os direitos do feto, desde a concepção, em detrimento dos da mulher. No início do mês, foi aprovado na Comissão de Finanças e Tributação. Antes, em 2010, havia passado pela de Seguridade Social e Família.

Um dos pontos mais polêmicos é a chamada "Bolsa Estupro", um benefício financeiro que seria concedido pelo Estado à gestante estuprada que quer ter o filho e não tem condições de sustentá-lo.

A Secretaria da Mulher Trabalhadora da CUT-SP reafirma que não é possível admitir mais essa violência contra as mulheres e que o PL representa um retrocesso e uma ameaça aos direitos das trabalhadoras.

Além de São Paulo, a manifestação contra o Estatuto do Nascituro foi programada para ocorrer em Belo Horizonte, Brasília, no Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, em Santa Maria (RS), Florianópolis, em Joinville (SC), Jaraguá do Sul (SC) e em Campina Grande (PB). Na Sé havia também representantes de Campinas e Guarulhos.

No Rio, jovens reuniram-se na Praia de Copacabana, na zona sul. Eles marcharam pela Avenida Atlântica com cartazes e faixas com dizeres como "Estuprador não é pai, é criminoso”, “Ventre livre”, “Nascituro no ventre dos outros é refresco”, “O Estatuto do Nascituro estupra meu direito” e “Não queremos bolsa-estupro, queremos segurança”.

A coordenadora-geral da União Brasileira de Mulheres (UBM) no Rio, Mônica Miranda, disse que lá a marcha também foi organizada pela internet e a entidade se incorporou ao movimento. “Neste momento, todas nós temos que estar juntas, porque é uma aberração esse projeto de lei. Nós estamos nos mobilizando, porque não podemos permitir que isso aconteça. Isso é uma afronta, é uma questão de humanidade, de direitos humanos. Então, estamos na luta”.